Amigo, sei a quantas anda está dura vida. No início ainda menino, depois jovem, ou melhor, adolescente, perguntas e mais perguntas pairavam em sua mente. Junto a isso, descobertas e prazeres. Assim tu iniciaste sua caminhada pelo mundo. Laços fortes se fizeram, outros ralos e fracos logo após se romperam. Enquanto os primeiros permaneceram firmes, independente da distância que foram postos.
A vida cheia de respostas simples e razoáveis, veio a te entreter. Ofereceu-te um cálice, transbordando em bens e males, de um leve gosto de maçã. Chronos, o tempo (que não costuma falhar em seu labor) logo te fez adulto; depois de descarregar em ti um dilúvio de sentimentos e sensações, além de loucuras e experiências regadas a muito vinho. Naquela fase da vida cujas pessoas costumam chamar de inesquecível: “a adolescência”.
Agora adulto, dois anjos o acompanham um de cada lado seu, um se chama vício e o outro virtude. Um permanece ao seu lado direito e outro ao esquerdo. Mas não se constranja por isso, pois esses mesmos anjos, de maneira onisciente caminham ao lado de cada um de nós, seres humanos. E saiba que sob a cabeça de cada um deles, encontra-se pêndula uma espada de bronze com bainha feita de ouro, sustentada por algo tão superior, uno e metafísico que jamais no auge de nossa sabedoria poderemos sequer, esboçar a vontade e as pretensões deste ser. No mais ele parece-nos como uma janela aberta a qual nos possamos ir além de nosso ser e alcançá-la. E nos devemos contentar unicamente a isso, não poder ver além desta estrada e tendo a sensação de que ela é muito mais extensa do se parece.
Mas voltando as perguntas que pairavam sobre ti as quais citei no início desta carta, é meu amigo se tu pensavas que diminuiriam, pelo contrário, elas aumentaram e bastante. Parecem agora mais complexas e decisivas. A tal da responsabilidade bate a tua porta, ocasionalmente também batem os erros e prazeres de um tempo passado.
Agora meu amigo, vagas em uma estrada em meio a um deserto. Estrada essa que possui começo, meio e fim. É eu sei às vezes nos esquecemos disso.
Já que me pediste uma opinião, me sinto na obrigação de dar uma. Ao sermos de todo vício e virtude, intrínsecos ao ser de todos nos. Observo teus vícios fazendo sobra a tuas virtudes, acorrentado-as ofuscando o brilho do teu ser. Tu és grande amigo, mas enquanto fores refém de si mesmo, o mundo não verá esse teu brilho. Teus vícios põem sobra em ti, e causam dificuldades para os que te olham.
Mas eu a olhar-te profundamente. Descrevo-te como uma pessoa de muita luz e de raro talento. Capaz de emanar alegria a qualquer lugar, sensível, cheio de amor e humildade. Um artista nato, com grande habilidade ao tocar as cordas de um instrumento e produzir uma bela melodia, grande escritor, poeta, até ao desenhar se sai bem; capacidade única em entreter e comunicar. Ah! Ia me esquecendo da bela voz. Amigo se eu fosse te descrever em uma palavra seria; Artista.
Mas o que é a artes e não tudo e todo tipo de ciência, és inteligente amigo, só te falta à consciência de que o saber não é o encargo de “ter de fazer algo”, ou aquela velha frase: “Eu tenho de estudar”. Você só tem de ver a ciência com outros olhos, ai descobrirá o prazer, não de estudar mas de “aprender”, como se aprende tudo na vida desde o nascer. Aprender é ser um grande curioso, é querer conhecer as verdades da vida -se é que há verdades na vida -, “o conhecimento é irresistível”. E cá pra nós, toda produção artística fica bem melhor com mais engenhosidade e conhecimento.
E ler meu amigo me parece crucial, não só na sua, mas em qualquer jornada, ou melhor, odisséia. Nas palavras de Goethe: “Ler é a arte de desatar nós cegos”.
Cuidado com o mundo a sua volta amigo, digo-te que ele tentará te corromper, te comprar. Às vezes vai conseguir, outras não. Não desista, faça de sua vida uma eterna resistência. Mas se quer saber uma verdade todo e qualquer preço é barato demais, quando a mercadoria se trata de um ser humano.E ainda sobre o mundo:
“Quando o seu mundo se tornar maior que o mundo a sua volta, esse não interferirá mais em você”.
E como caiu na asneira de pedir minha opinião, eis outra aqui:
“o homem que pretende alcançar a plenitude de seu ser. Trava um constante combate contra seu Eu selvagem, interior, animal e que não é dotado de razão.”
Receio meu amigo, ter de precaver-te que nesta altura da vida, você se encontra às vésperas de um combate decisivo, contra um adversário que você jamais encontrará mais forte e habilidoso, luta mais difícil e sangrenta, jamais pudeste imaginar. Teu adversário é você mesmo. O prêmio é a livre e plena diligência do teu ser. Não tenhas medo e resista com bravura, sabendo que nessa luta, como em todas as lutas de nossa vida, ambos os lados saem tanto vencendo quanto perdendo. Falo-te que:
“Nem sempre os vencedores são os que vencem e nem sempre os perdedores são os que perdem”.
Não sei se consideras um conselho como bom ou se leva ao pé da letra aquele antigo “ditado popular”. Ou vê o conselho como uma forma de filosofia aplicada, exercida sob a vida de alguém. Mas se eu pudesse te aconselhar sobre a vida, a vida mesmo propriamente dita, na decisão decisiva. Falaria-lhe:
“A vida é um grande jogo de cara ou coroa, se faz pelo risco,, a metade de possibilidade de vitória e a outra metade de derrota”.
Mas se eu fosse lhe falar sobre a derrota, deixaria outro lhe falar:
“Só é digno do pódio, quem usa das derrotas para alcançá-lo”
Ah! E respondendo a uma pergunta que o amigo me fez, na data de aniversário de alguém muito especial. Sobre Filosofia e Poesia. Respondo-te:
“O quanto de poesia que há em um filósofo é o tanto de filosofia que há em um poeta.”
Enfim amigo, agora ao final desta carta, independente de tudo que foi escrito, saiba que há aqui alguém que você sempre poderá contar, independentemente do momento e do ser que você esteja vivendo. Acredito em você e sei que você sabe e sente que é um tanto bem maior. Espero que o seu brilho ofusque o da Estrela do Norte. Mesmo que a platéia seja pequena e se resuma a uma mulher e uma ou duas crianças, tão ou mais importante que qualquer Maracanã lotado.
Para encerrar te deixo duas frases e uma pergunta referente à primeira.
“O que faz a pessoa feliz é a quantidade de interesse que ela própria pode gerar, é o quanto ela consegue estar interessada na vida. Consistindo a felicidade na dedicação de si mesmo a existência.”
L. Run Hubbart, do livro:
“Uma nova perspectiva de vida”
O quanto de significado você deposita em sua vida?Quanto interesse você gera em sua existência?
“Nunca se afaste de seus sonhos, pois se eles se forem você continuará vivendo, mas terá deixando de existir”.
Charles Chaplin
Para Ítalo
Abraços de seu amigo
25/12/2010
Carta a um Amigo
Victor de Souza